Marineide queria comprar uma televisão nova. Moderna, fininha, era o que mais desejava para assistir suas novelas. Convidou-me para acompanhá-la, pois tinha receio de comprar uma TV que não prestasse. Acredito que nessa situação seria melhor a companhia de seu sobrinho, que entendia tudo relacionado a esse mercado. No entanto, Marineide estava ansiosa demais e não queria esperar por ele. Aceitei o convite.
Na loja, fomos direto para a seção de televisores e era um show de modelos, tamanhos, tecnologias. Chamamos um vendedor para nos atender que, muito atencioso, indicou um modelo específico, explicando detalhadamente, com indisfarçável prazer, como ela funcionava, suas peripécias, suas entradas e saídas e a variedade de funções que aquela maravilha oferecia. Impressionante a quantidade de funções que uma TV tem hoje em dia! Voltei minha atenção para o vendedor, precisava entender o que explicava, pois não tinha certeza se Marineide o compreendia muito bem. O vendedor era muito jovem, impressionava com facilidade, fala fácil, e empolgava os menos avisados que ouviam seu canto de sereia. Mas esse comportamento é comum nos jovens que cresceram nesse mundo virtual e digital. Diferente da minha geração, que viu o mercado passar por várias mudanças, evoluindo muito rápido, saindo do disco de vinil para o CD, DVD e blu-ray, da fita cassete ao pendrive. Acredito que seja por isso que o vendedor foi tão detalhista nas explicações conosco. Além do mais, éramos mulheres e, sinceramente, confesso que nós temos alguma dificuldade para entender essas novas “sensações do mercado”! Diferente dos homens. Esses são mais interessados! Eles, normalmente conhecem os produtos antes de chegarem às prateleiras do mercado. E nós, somente quando estão na prateleira de nossas casas. Raras são as exceções!
E Marineide, coitada! De uma época em que as novelas eram narradas em rádios! Será que entendeu as explicações do vendedor? Pela sua expressão, parece que não. Mas parece ter entendido o que era HDMI, que segundo o vendedor era um cabo de conexão com a mais nova e alta tecnologia que, através de sinais digitais, transmite imagem e som de alta qualidade. Então Marineide lembrou de uma “técnica” antiga, para melhorar a imagem, quando se colocava palha de aço nas pontas das antenas dos televisores. Algumas pessoas acreditavam nisso. Sim, era quase uma crença. Eu particularmente, que tive oportunidade de testemunhar essa “técnica”, não via diferença alguma na imagem, que continuava distorcida e cheia de chuviscos. E a televisão! Coitada ! Parecia um ET!
Agradecemos ao vendedor pela sua atenção, com promessa de voltarmos mais tarde com o sobrinho da Marineide. Assim procuramos a saída, uma vez que estávamos perdidas com as variedades de entradas que existiam na televisão!
Nice Bacchini
Texto publicado no Jornal Regional de Notícias, Laranjeiras do Sul/ PR